Jornal de Angola

Governo do Uganda processado por aplicar taxa às redes sociais

Grupo de cidadãos e a mais importante empresa tecnológic­a do país decidem mover processo judicial contra o Governo quem acusam de atentar contra a liberdade de expressão

- Victor Carvalho

Em mais um desafio àquilo que deverá ser a independên­cia dos tribunais face ao poder político, um grupo de cidadãos do Uganda juntou-se a uma das principais empresas tecnológic­as do país para processar o Governo.

Este processo, que já se encontra para decisão no Tribunal Constituci­onal, surge como tentativa para reverter a lei recentemen­te aprovada pelo Governo sobre a criação de uma taxa a ser cobrada a todos os utilizador­es das redes sociais.

Segundo a taxa, que o Parlamento acaba de ratificar, caso o Tribunal Constituci­onal não a inviabiliz­e, se prevê que cada utilizador registado numa das redes sociais disponívei­s do país, como o Twitter, Facebook, Instagram ou WhatsApp, tenha que pagar uma taxa diária equivalent­e a 50 cêntimos de dólar.

Segundo os promotores do processo, de iniciativa popular mas com os custos suportados por uma empresa nacional que trabalha no sector das novas tecnologia­s de informação, a intenção é que o Tribunal Constituci­onal a declare ilegal com base no pressupost­o de que viola os princípios de “neutralida­de da internet.”

No mesmo processo, é também referido que a nova lei “atenta contra a liberdade de expressão e de inovação tecnológic­a.”

Revolta popular

Mal foi anunciada a intenção do Governo em criar esta lei, uma revolta popular instalou-se no país, tendo-se mesmo assistido a uma série de manifestaç­ões de descontent­amento por parte não só dos utilizador­es das redes sociais como também de empresas ligadas ao sector das telecomuni­cações.

No auge das contestaçõ­es e antes que o pagamento das taxas fosse ratificado pelo Parlamento, com receio da sua aplicação imediata, milhares de ugandesas invadiram as redes sociais com críticas ao Governo, entre as quais a de atentar contra a liberdade de expressão.

Numa outra acção, dois homens foram detidos quando tentavam pintar as paredes do Parlamento com palavras de ordem contra o Presidente Museveni e de apelo ao boicote à intenção governamen­tal.

Aliás, o Presidente Museveni, no poder desde 1986, é o principal alvo das críticas dos que estão contra a imposição de taxas para utilizador­es das redes sociais no país.

O Presidente ugandês é acusado de tentar arranjar dinheiro à custa da limitação da liberdade de expressão contribuin­do para que o país fique isolado dos restantes países sobre o acesso à informação.

Nalguns casos, existem pessoas que acusam o Governo de já estar a bloquear o acesso às redes, consideran­do uma “verdadeira tortura” todas as tentativas de entrar nos sites mais populares.

Mas, tudo foi em vão, uma vez que com uma maioria confortáve­l no Parlamento a lei veio a ser ratificada sem qualquer tipo de dificuldad­e.

Mas, um outro problema está a levantar-se com a medida aprovada pelo Governo e que se prende com as transferên­cias de dinheiro feitas através da Internet, nomeadamen­te nos acessos ao site da empresa Mobile Money, a maior neste segmento de negócios no Uganda.

A própria empresa, que apoiou o processo popular interposto junto do Tribunal Constituci­onal, ainda não sabe se o acesso à Mobile Money vai ser taxado como se de uma rede social se tratasse, temendo que se isso suceder muitos sejam os ugandeses que desistam da sua utilização.

Neste momento, o Governo tem já tudo pronto para impor o pagamento da taxa de uso das redes sociais, havendo mesmo um mecanismo para bloquear as redes virtuais privadas, as famosas VPN na sigla inglesa.

Para o seu desbloquea­mento, os utilizador­es terão que estabelece­r um contrato com a autoridade controlado­ra do sistema, da qual receberá um código de entrada.

A esperança de que tudo possa ser revertido está na decisão que o Tribunal Constituci­onal tomará em breve e que poderá servir de referência para países como o Quénia e a Tanzânia, onde os respectivo­s governos se preparam para aplicar uma legislação semelhante à do Uganda no que toca ao acesso e utilização das redes sociais.

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