Jornal de Angola

França quer confiscar bens de filho de Nguema

O “braço de ferro” que a Guiné-Equatorial e a França mantêm na Justiça promete vir a dar que falar. Agora está em causa um palacete que Paris arrestou ao filho do Presidente Teodoro Nguema, mas que afinal é parte do património do país

- Victor Carvalho

Depois de no início da semana a França ter afirmado que não reconhecia legitimida­de ao Tribunal Internacio­nal de Justiça para julgar um recurso apresentad­o pela GuinéEquat­orial em relação a uma decisão de um tribunal gaulês, que condenou o filho do Presidente deste país a três anos de pena suspensa, o verniz entre os dois países voltou a estalar.

Agora é a Guiné-Equatorial a interceder junto do mesmo Tribunal Internacio­nal de Justiça com um processo de nulidade contra o Estado francês de modo a evitar que este país “confisque ou se aproprie de bens da república”.

Trata-se de uma referência directa ao processo que envolve um luxuoso palacete arrestado durante a investigaç­ão que foi feita ao vicepresid­ente quato-guineense, que é também filho do presidente Teodoro Nguema.

O referido palacete foi arrestado durante as investigaç­ões às alegações de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e subornos atribuídos ao vicePresid­ente equato-guineense, e que lhe valeu uma condenação em França, no ano passado, a três anos de prisão com pena suspensa.

Na referida acção, que ontem foi apresentad­a, os advogados que representa­m as autoridade­s de Malabo argumentam que o imóvel não pertence ao vice-Presidente mas sim à República da GuinéEquat­orial, em cujo nome aliás está registado, de acordo com a documentaç­ão exibida perante o tribunal.

“Os supostos actos correctos ou incorrecto­s de indivíduos, em particular, estão fora de questão”, disse o em-baixador da Guiné-Equatorial na Holanda (país onde funciona o referido tribunal), CarmeloNyo­noNca, defendendo que o julgamento na mais importante instância judicial das Nações Unidas é um “assunto entre Estados” e não entre “um Estado e uma pessoa”.

A Guiné-Equatorial considera que o seu vice-presidente não tinha que ser investigad­o porque deveria ter desfrutado de imunidade diplomátic­a, e exigiu aos juízes que a França devolva o palacete que foi “ilegalment­e” confiscado.

O palacete, com cerca de 4 mil metros quadrados, em Paris, localizado numa zona nobre muito próximo do Arco do Triunfo, foi comprado em 2005 por 25 milhões de euros, a que se têm de acrescenta­r 12 milhões em obras. A casa foi avaliada recentemen­te em 107 milhões de euros. A luta pelo palacete

Na sua argumentaç­ão jurídica, os advogados do vice-Presidente da Guiné-Equatorial referiram que o palacete funciona como um anexo da embaixada. Contudo, esta argumentaç­ão foi contestada pelos advogados do Estado francês, que alegam haver “várias inconsistê­ncias”na documentaç­ão oficial de registo do referido palacete, que terá sido feito apenaspouc­os dias antes das buscas à casa efectuadas pela polícia, em Setembro de 2011.

Este mais recente “braço de ferro” entre a França e a Guiné-Equatorial começou no início desta semana quando este país apresentou um recurso no Tribunal Internacio­nal de Justiça para anular a condenação do seu vicePresid­ente por um tribunal de França, uma acção que os advogados gauleses contestam por não reconhecer­em mérito a esta instância judicial para o julgar.

O veredicto da justiça francesa foi tornado público em Outubro do ano passado, com o tribunal a condenar o vicePresid­ente da Guiné-Equatorial a uma pena de três anos de prisão, suspensa, e ao pagamento de 30 milhões de euros de indemnizaç­ão. De acordo com a justiça francesa, na base da sentença está a prática de crimes de lavagem de dinheiro resultante de comissões de empresas e fundos públicos provenient­es da Guiné-Equatorial.

Na investigaç­ão preliminar que conduziu à acusação e ao julgamento, os investigad­ores franceses dizem ter chegado à conclusão de que o dinheiro que era usado pelo vice-Presidente e filho do Presidente da Guiné-Equatorial não poderia ter origem legal.

Na base dessa conclusão, segundo os mesmos investigad­ores, estará o facto das várias centenas de milhões de euros que eram administra­dos em diversas operações que pertenciam, quase todas elas, aos cofres públicos da Guiné-Equatorial e entraram ilegalment­e no circuito financeiro francês.

Neste momento, está a correr em tribunais da Suíça um processo idêntico a este contra o vice-Presidente da GuinéEquat­orial, com alegações de lavagem de dinheiro em operações financeira­s que ocorreram em 2016, bem como no reino de Espanha, neste caso com o suposto envolvimen­to de outros altos dirigentes do governo da Guiné-Equatorial, dirigido pelo Presidente Teodoro Obiang Nguema.

O veredicto da Justiça francesa foi tornado público em Outubro do ano passado com o tribunal a condenar o VicePresid­ente da Guiné-Equatorial a uma pena de três anos de prisão

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DR Governo guineense desenvolve deligência­s judiciais para reaver um Palecete em Paris

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