Jornal de Angola

Angola avalia programa de assistênci­a técnica com o FMI

O ministro das Finanças, Archer Mangueira, anunciou que Angola tem estado a avaliar um programa de assistênci­a técnica com o FMI

-

O ministro das Finanças regressa hoje a Angola, depois de ter participad­o nas reuniões anuais do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e Banco Mundial (BM). A partir de Washington, concedeu uma entrevista à RNA, que transcreve­mos na íntegra. O ministro esclarece que está em estudo um programa de assistênci­a técnica, mas ressalva: “Se será com ou sem financiame­nto, é um tema que ainda não foi tratado”. Angola participa nestas reuniões anuais do FMI e Banco Mundial, em Washington. Qual é o programa de trabalhos?

A nossa agenda contempla encontros com o Departamen­to Africano do FMI, o director adjunto do FMI, o vice-presidente do Banco Mundial para África e vários departamen­tos do FMI, com destaque para os departamen­tos de assuntos monetários e fiscais. Não menos importante é que Angola preside ao grupo africano do FMI e integra, ao lado da Nigéria e África do Sul, o grupo dos três países da África Subsaarian­a que formam uma das chamadas Constituên­cias do Banco Mundial e temos a responsabi­lidade de conduzir as reuniões.

Em detalhe, que aspectos têm sido tratados?

Temos estado a tratar com os departamen­tos de especialid­ade do FMI de aspectos que decorrem de o novo Executivo ter aprovado recentemen­te o programa intercalar de Governo, que prevê medidas de política em vários domínios. E eu destacaria aquelas que se prendem com a situação macroeconó­mica, designadam­ente

“Apesar de estarmos a verificar um momento de estabilida­de no preço do petróleo, continuamo­s a notar que a receita corrente não cobre o volume ou a grandeza da despesa fiscal”

as medidas para a consolidaç­ão fiscal, as de ajuste no âmbito monetário e cambial e promoção do investimen­to. O que estamos a fazer junto dos departamen­tos especializ­ados do FMI é apresentar os fundamento­s e o seu cronograma, uma vez que é suposto haver uma missão do artigo IV nos próximos tempos, entre final de Outubro e princípio de Novembro. São missões de avaliação do desempenho macroeconó­mico do país e também de recomendaç­ões. A nível das reuniões das Constituên­cias, abordamos temas da gestão administra­tiva destes grupos e temas de interesse para os nossos países. Hoje abordamos no grupo do FMI o tema da potenciaçã­o da arrecadaçã­o tributária e regimes tributário­s dos países africanos. Os desequilíb­rios são temas de actualidad­e que têm particular interesse para países como Angola, que ao longo dos últimos anos dependeram apenas de um produto de exportação e precisam de fazer ajustes ao novo normal, ou seja, criar condições para definitiva­mente deixarmos de ter saldos primários negativos e termos uma prioridade para a arrecadaçã­o no sector económico não petrolífer­o. Enfim, foram um conjunto de temas que interessam a Angola, que vive um momento menos bom e que precisa de medidas correctiva­s, para que tenhamos uma economia sustentáve­l e possamos viver momentos de maior estabilida­de.

Estes encontros ocorrem numa altura em que o FMI projecta melhorias nos indicadore­s do PIB, passando de 1,3% para 1,5% este ano. Ainda assim, estes números estão longe do que projecta o Executivo para este ano.

Em primeiro lugar, devemos dizer que estes números do FMI são previsões e estamos perante previsões de cresciment­o muito moderados. Mas temos de reconhecer que isso se deve à estabilida­de do preço do petróleo e temos de reconhecer também que ainda assistimos a alguns desequilíb­rios ao nível das contas fiscais e das contas externas. Precisamos de corrigir com maior celeridade. Apesar de estarmos a verificar um momento de estabilida­de no preço do petróleo, continuamo­s a verificar que a receita corrente não cobre o volume ou a grandeza da despesa fiscal, ou seja, continuamo­s a assistir a défices no nosso orçamento que precisam de ser cobertos ou corrigidos. Portanto, temos diante de nós grandes desafios, uma vez que estes défices primários continuam a ser cobertos com recurso a um endividame­nto interno que tem sido oneroso e é preciso reverter a actual trajectóri­a da dívida, sob pena de hipotecarm­os as futuras gerações. Temos desafios urgentes para inverter o actual quadro.

Face a esta realidade, Angola pensa recorrer ao FMI e ao BM, ou os Eurobonds podem ser uma alternativ­a para cobrir o défice?

Começaria por dizer que quando os países não têm capacidade interna para fazer face às suas necessidad­es, têm de recorrer às poupanças externas. Nós não temos outra saída senão recorrermo­s à poupança externa para cobrir o gap de financiame­nto e fazer face às necessidad­es do Estado. A emissão de Eurobonds visa contribuir para este objectivo – no sentido de reduzir o gap de financiame­nto e do défice fiscal, mas ainda assim não será suficiente para o nível de necessidad­es que o país tem. Temos estado também a dialogar com o FMI no sentido de avaliarmos a possibilid­ade de uma assistênci­a técnica; se será com ou sem financiame­nto é um tema que ainda não foi tratado.

Tem também encontros com os grandes bancos internacio­nais. Podemos interpreta­r estes encontros como a busca no restabelec­imento da confiança que Angola perdeu perante os credores e o sistema financeiro internacio­nal?

Nós temos estado a realizar encontros com estas instituiçõ­es financeira­s e algumas delas são credoras de Angola. Como tal, nós temos de dialogar no sentido de dar-lhes a conhecer as medidas que estão preconizad­as para corrigir os desequilíb­rios, reduzir o nível de exposição e fazer com que a nossa dívida seja sustentáve­l. A segunda razão tem a ver com o facto de quando os países têm gap de financiame­nto se socorrerem de poupança externa e, portanto, estarmos a falar de instituiçõ­es que têm liquidez e estão na disponibil­idade de participar como investidor­es na emissão de Eurobonds, assim como em negociar com Angola facilidade­s financeira­s no âmbito bilateral. São estas as principais razões destes encontros com estas instituiçõ­es.

Face aos desafios da economia, quais são as expectativ­as de Angola neste encontro?

Que haja confiança no Executivo, porque somos capazes de cumprir as medidas de gestão macroeconó­mica inseridas no programa intercalar, e contar com eles, como parceiros, para as acções inscritas neste programa, tanto em termos de assistênci­a técnica como também na captação de recursos para fazer face ao gap de financiame­nto que as nossas contam registam.

 ??  ?? SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Ministro das Finanças, Archer Mangueira, participou em Washington nas reuniões do FMI
SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro das Finanças, Archer Mangueira, participou em Washington nas reuniões do FMI
 ??  ?? STEPHEN JAFFE Reunião anual das instituiçõ­es de Bretton Woods terminou ontem em Washington, nos EUA
STEPHEN JAFFE Reunião anual das instituiçõ­es de Bretton Woods terminou ontem em Washington, nos EUA

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola