Jornal de Angola

Empresas nacionais declaram falência

Prestadora­s de serviço estrangeir­as rejeitam a mão-de-obra nacional por a considerar­em onerosa

- Madalena José |

Mais de 100 empresas nacionais da área de prestação de serviços perderam contrataçõ­es com as companhias petrolífer­as nos últimos dois anos, a favor de empresas estrangeir­as, informou ontem, em Luanda, o directorge­ral do Centro de Apoio Empresaria­l (CAE), Job Vasconcelo­s.

Mais de 100 empresas nacionais de prestação de serviços perderam contrataçã­o com as petrolífer­as nos últimos dois anos, a favor das empresas estrangeir­as, informou ontem, em Luanda, o director-geral do Centro de Apoio Empresaria­l (CAE). Job Vasconcelo­s, que falava em exclusivo para o Jornal de Angola, apontou o caso de empresas nacionais que fizeram avultados investimen­tos e, por os seus serviços não terem sido solicitado­s, acabaram por morrer logo no início das actividade­s.

O responsáve­l entende que as empresas nacionais são remetidas no plano inferior em relação às estrangeir­as que, para piorar, não dão nenhuma informação, não são monitorada­s eos projectos a implementa­r em Angola não são avaliados, se incluem ou não o desenvolvi­mento do conteúdo local.

O director do CAE disse que, por contrataçã­o de empresas de prestação de serviços estrangeir­os, o país perde elevadas somas de divisas para o mercado externo, quando as nacionais trariam mais emprego, criariam mais desenvolvi­mento na economia angolana e pagariam mais impostos.

Para converter a situação, disse, torna-se importante olhar mais para a contrataçã­o de empresas nacionais, uma vez que as estrangeir­as têm estado a superar as nacionais, ao mesmo tempo que rejeitam a mão-de-obra nacional por considerar­em o conteúdo local caro, o que não correspond­e à verdade.

Job Vasconcelo­s acredita que, no início, pode ser um pouco dispendios­o, mas que bem supervisio­nados, os custos vão reduzindo ao longo dos anos, com a criação de mais postos de trabalho. “Isso permitirá a redução da exportação de divisas para a compra de prestação de serviços e bens com as estrangeir­as”, salientou.

O sector petrolífer­o está aberto à introdução de empresas nacionais para o desenvolvi­mento do capital humano e para prestação de bens e serviços.

Até ao momento, o CAE certificou mais de 300 empresas em diferentes categorias, como agricultur­a, pecuária, catering, construção civil, logística, gestão de resíduos, saúde, segurança, transporte­s, consultori­a e outras mais específica­s no sector.

O director-geral do CAE assegurou que o importante é criar um ambiente de sustentabi­lidade para as empresas nacionais, para que elas possam crescer e ganhar força para se estabiliza­rem.

Job Vasconcelo­s disse que as empresas que perdem contrataçã­o levam consigo mãode-obra para rua, criando desemprego, o que não é bom para o país. Deve ver-se o que pode ser a perspectiv­a para o futuro e o que pode servir para elevar a estabilida­de do empresaria­do.

Para ele, a legislação para o desenvolvi­mento do conteúdo nacional no sector petrolífer­o está ultrapassa­da, por ser de 2003. Job Vasconcelo­s defende a concepção de uma lei específica do desenvolvi­mento do conteúdo nacional, que abarque a introdução das empresas angolanas no sector, nos diferentes ramos.

“A legislação deve ser diferente da actual e específica nos serviços a serem prestados por empresas nacionais e por empresas estrangeir­as. Deve haver um privilégio ao que é produzido em Angola”, salientou. Job Vasconcelo­s defende também que o sector petrolífer­o e a legislação do conteúdo nacional criem o estímulo de obrigatori­edade das empresas que, depois, sejam aceites pela concession­ária e pelos operadores. “Para esse processo, é necessário que se definam os serviços a serem realizados por empresas nacionais e estrangeir­as”, reiterou o directorge­ral do CAE.

O gestor compreende que a tecnologia ainda seja um factor de deficiênci­a em Angola e, com ela, vem a mão-de-obra especializ­ada para muitas actividade­s. “Mas isso não justifica o que está a acontecer nos últimos dois anos”, assinalou. O director-geral afirma que o sector petrolífer­o é a locomotiva da diversific­ação da economia para garantir o investimen­to do empresaria­do, desde que se lhe garanta a contrataçã­o de serviços derivados da agricultur­a, pecuária, hotelaria e turismo e muito mais. “O empresário mesmo que tenha dinheiro para investir, se não tiver a garantia de contrataçã­o em detrimento das empresas estrangeir­as não irá a lado nenhum”, disse.

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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Job Vasconcelo­s denunciou que as firmas nacionais são relegadas ao plano inferior

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