Oposição débil e renovação da esperança
O país entra para uma fase préeleitoral e a disputa política gira em torno da preparação dos partidos, das suas lideranças e das suas bases de apoio para os desafios eleitorais. Estas podem ser as eleições mais bem disputadas da recente história da democracia angolana, mas igualmente as mais bem organizadas e históricas em muitas das suas dimensões. Os níveis de preparação destas eleições, acompanhadas do grau de maturação das populações, o ambiente de estabilidade política que o país vive, todos estes factores são apenas superados aparentemente pela fase menos boa enfrentada pelos partidos da oposição. Por culpa própria, sublinhe-se.
Mas preocupa ou devia preocupar a qualquer angolano democrata o estado em que se encontram muitas formações políticas, esperadas como contendoras das eleições marcadas para Agosto de 2017.
Independentemente de um ou outro partido estiver bem organizado, realidade que joga sempre a seu favor, preocupa em certa medida termos um pleito eleitoral marcado por forças políticas da oposição desencontradas e enfraquecidas.
Não é exagerado, nem é sob lágrimas de crocodilo que se deseja para Angola uma democracia forte, com partidos fortes, embora seja por culpa própria que grande parte das formações políticas da oposição tenham os problemas que têm.
Algumas formações políticas encontram-se com profundas divisões internas, tal como a FNLA, onde a velha divisão entre partidários de Lucas Ngonda e os de Ngola Kabangu parece voltar a baila, com conversas alimentadas nas redes sociais sobre a suposta preparação de um congresso daqueles últimos, marcado para Março.
Outros partidos, como o PDPANA e o PRS do histórico Eduardo Kwangana vivem uma gestão das dinâmicas internas que faz transparecer numerosas fragilidades, com um congresso ainda sem data e sem a certeza da concorrência ou desistência do líder. O PRS parece encaminhar-se exactamente pelos mesmos trilhos da FNLA, nos dias finais da liderança de Holden Roberto, e pode não vir a ser mera coincidência se o partido fundado por Kwangana e companhia implodir e dar lugar a “novos” renovadores.
A UNITA, enfraquecida com a sangria de numerosos quadros e militantes, tende a partir para o pleito enfraquecido com um cabeça de lista que não irradia competitividade, garra e ar de vitória. A ausência de um rosto novo, em detrimento da figura de Isaías Samakuva, perdedor em 2012 e cuja presença nestas eleições pode voltar a ensombrar a base eleitoral da UNITA, complicam as perspectivas de uma vitória. O ex "embaixador", segundo algumas sensibilidades no seio da UNITA, podia até manter a presidência do partido, mas para proporcionar melhores perspectivas e possibilidades eleitorais ao partido do Galo Negro era recomendável que abdicasse do leme como número um.
As alegadas "medidas adequadas" que Samakuva prometeu adoptar em caso de derrota eleitoral, durante a entrevistada dada há dias ao canal TV Zimbo, além de representar algum desespero, constitui também uma antecipação contraproducente e perigosa. Não é benéfico para a UNITA quando o seu número um da lista às próximas eleições, como tudo indica que venha ser Isaías Samakuva, venha a público dizer que vai participar e ao mesmo tempo reclamar dos resultados eleitorais, se lhes forem desfavoráveis. E o eleitorado, porque não o país inteiro, precisa de saber que "medidas adequadas" vão ser essas.
A CASA-CE de Abel Chivukuvuku e companhia falhou a primeira oportunidade que teve para demonstrar aos angolanos que se trata realmente de uma “ampla convergência”, na medida em que as lideranças da referida coligação não souberam congregar-se em torno de um ideário que transformaria o projecto em partido político. Sublinhe-se, por culpa própria.
Nestas eleições, em que a oposição vai partir completamente enfraquecida e fragilizada por culpa própria, grande parte do eleitorado que eventualmente constitui a base eleitoral desta mesma oposição vai confrontar-se com opções difíceis. Ninguém deposita confiança num projecto em que os níveis de divisão e enfraquecimento são tão evidentes, numa altura em que o partido no poder soma e segue, cimentando a sua posição.
O processo de transição da liderança, que pode começar ao nível do Estado, com a ascensão de João Lourenço a número um da lista do MPLA às próximas eleições, apanhou complemente desprevenido os partidos da oposição. O partido no poder dá amostra de preparação e maturidade, sendo previsível um contínuo processo interno de reforma para a entrada do ciclo normal da alternância na liderança do partido. Esse precedente que se abre com um novo rosto no topo da lista do partido no poder às eleições de Agosto vai pesar muito favoravelmente ao MPLA e desfavoravelmente aos partidos da oposição, que a pouco meses das eleições fazem uma desesperada gestão desta realidade. Entre a divisão e fragilidade de toda a oposição e a renovação da esperança com o MPLA, as opções parecem demasiado óbvias.