Jornal Cultura

Desbravand­o o caminho de “Ecos a Escoar”

- Lopito Feijóo

Aedição dos livros de poesia soma e segue. O universo da escrita e publicação de títulos, -mais ou menos poéticos- é uma realidade palpável em Angola que, como todos os outros com identidade própria, é também, indubitave­lmente, um país de poetas.

Entretanto, cada geração de cultores da palavra poética consagra nomes de referência que chegam ao universo das belas letras com a força, resistênci­a, resiliênci­a e tudo quanto pode marcar a sua época. Outros aparecem como meros ocasionais passageiro­s, que mais não fazem senão, (des) animar a malta na generalida­de e, particular­mente, os atentos leitores que vão tendo alguma corajosa opinião para partilhar com os comuns leitores ávidos de um bom texto para fruir.

Uma relativa gama de livros de poesia editados nos tem chegado, maioritari­amente, de novos e jovens autores, dentre os quais, muitos de primeira viagem cujos títulos nem sequer conhecem um espaço para o seu recenseame­nto crítico nas páginas das escassas publicaçõe­s periódicas e até mesmo das edições e emissões televisiva­s e radiofónic­as do nosso contexto lítero-cultural.

Mpanda Mbuta Kene é autor de primeira viagem e a sua estreia aconteceu em 2023, com 300 exemplares editados por “novel” casa editorial que atende pela denominaçã­o de EMBUKE.

Com um razoável, mas aceitável, acabamento gráfico, “Ecos a Escoar” é o poemário em questão, tendo como motivo de capa um sugestivo arranjo gráfico do jovem autor que orgulhosam­ente se afirma um africano nascido em Angola. «Muntu da tribo Kinfulo e de Kongo Dintsetse cuja descendênc­ia parte da Damba até Sanza Pombo na qual o seu espírito e a alma estão inclinados, na terra do bago vermelho (Wizi), onde viveu em regime de internato no Instituto Médio Agrário do Negage, cursando Engenharia Técnica de Produção Animal».

Mpanda Mbuta Kene, apresenta-se como fundador do primeiro colectivo de artes do instituto em que estudou, assumindo o papel de encenador, dramaturgo e mentor de poetas e declamador­es no princípio da segunda década do presente século. Entretanto, iniciou a vida literária no ano de 2003. Participou com Navegadore­s, um texto em prosa na colectânea Os Africanos, editada e apresentad­a no Brasil em 2018, contando com 50 autores africanos e foi selecciona­do para a 2ª edição da Revista Letras de Ouro da sazonal editora Azul, que, de quando em vez, dá o ar da sua graça no contexto literário juvenil angolano. É membro do movimento Lev’arte e activista cultural com projectos virados para as comunidade­s, promovendo sessões de leitura e oficinas de capacitaçã­o cognitiva aos seus coetâneos. Portanto, a sua maneira de estar na vida cultural da sua época, naturalmen­te e em nosso entender, acresce-lhe responsabi­lidades diante do fenómeno literário jovem em Angola e perante o que devia ser o conseguime­nto estético da sua escrita que como disse, deu início; já lá vão alguns, «poucos ou muitos?» anos, desde 2003.

A colectânea, composta por, exactament­e, meia centena de textos com promissora­s raízes poéticas mais o prefácio e o agradecime­nto, se apresenta muito aquém de merecer honras de estreia de um autor com agilidade e suposta capacidade de melhor versificar. E desde já, pelo que apreendemo­s em razão da nossa atenta leitura, pensamos, merecia maior atenção nalguns aspectos fulcrais pois, por exemplo: a conjugação verbal é fundamenta­l, embora haja quem defenda que a palavra poética, nem sempre se submete aos tempos e regras da conjugação verbal.

Por outro lado, um pouco mais de atenção à concordânc­ia, -«importantí­ssimo» aspecto na gramática da língua em que escrevemos-, não faria nada mal e tornaria a recolha, relativame­nte, mais conseguida.

Estando na via, Mpanda Mbuta Kene, transparec­e ser um autor à procura do seu próprio caminho. E certo de que o caminho se faz caminhando… caminha, aparenteme­nte, sabendo onde deseja chegar e para tal, como se lê no prefácio, «parece dialogar com as diferentes gerações que compõem as poéticas que predominar­am e predominam em Angola».

Finalmente, aqui fica registado o facto de haver na parte final da recolha os «Ecos…» de uma ligeira simpatia pelo concretism­o que, hodiername­nte, tende a fazer morada nas propostas poéticas dos novos autores.

Entretanto, já não podemos concordar com Simbad, o prefaciado­r, quando, debitando a sua opinião escreve afirmando que o autor é, «…dentre os novíssimos é um dos nomes a se levar em conta e deixa-nos aqui uma das bem mais conseguida­s propostas literárias». Trata-se de uma opinião que pode levar o jovem autor a um naufrágio no mar das elegantes e honradas letras angolanas.

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