“MPLA Leaks”? Só noutra era…
Apesar das revelações do ‘ Luanda Leaks’, os problemas em Angola continuam por resolver. Quando todos pensavam que, por milagre, os jacarés passariam a ser vegetarianos… “Raramente um bilionário caiu tanto e tão depressa; mas em Angola e noutras partes do mundo, os males sistémicos que a investigação ‘ Luanda Leaks’ trouxe para a ribalta – corrupção, a saída de riqueza para centros ‘offshore’ e uma indústria de dinheiro sujo que cria e acelera o roubo de nações inteiras – continua largamente por resolver”, lê- se num texto de Will Fitzgibbon, coordenador das parcerias em África e no Médio Oriente do Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação ( ICIJ) e publicado em Dezembro de 2020.
Dois anos depois da revelação de documentos que lhes caíram no colo, a “investigação” ( no caso sinónimo de divulgação) jornalística conhecida por ‘ Luanda Leaks’, e que incidiu principalmente ( sem que quase ninguém tivesse estranhado) sobre os negócios da empresária Isabel dos Santos em Angola, o ICIJ usa as palavras da activista Laura
Macedo para concluir que “os ‘ Luanda Leaks’ foram uma lufada de ar fresco que entraram pela janela”. É pena que se esqueçam que Angola é uma casa sem janelas, em muitos casos até mesmo sem… paredes.
Apesar disso, o coordenador do ICIJ para África elogiou João Lourenço ( pudera!) por ter agido rapidamente do ponto de vista judicial contra antigos responsáveis do Governo anterior, mas lamentou que seja “menos receptivo ao auto- exame”. E que tal alguém perguntar ao ICIJ se nos documento que recebeu não constam sobejas informações e provas relativas a João Lourenço, então vicepresidente do MPLA e ministro da Defesa do pai de Isabel dos Santos, José Eduardo dos Santos? A queda da filha do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, afirma- se, foi “cataclísmica”, tendo em conta que Isabel dos Santos “chegou a jantar com presidentes de empresas globais e posou em carpetes vermelhas com presidentes, príncipes e com a elite de Hollywood”, deu entrevistas ( algumas por encomenda) a impolutos “jornalistas” ( de “investigação”?) estrangeiros, “mas depois o seu círculo privado e as empresas relacionadas estão sob investigação criminal em três países, estando impedida de aceder a activos avaliados em centenas de milhões de dólares e entre os seus principais investimentos, foi forçada a ceder o controlo em três companhias, pelo menos sete foram bloqueadas no âmbito dos processos judiciais e outra está em falência”.
Os advogados, conselheiros e contabilistas “afastaramse depois de assinarem as auditorias e gizado estratégias de contorno de pagamento de impostos”, e as “reportagens” do ICIJ mostraram como os conselheiros profissionais nas nações ocidentais tornaram possível que dos Santos desviasse a riqueza do seu país para contas pessoais. O jornalista Will Fitzgibbon citou, na altura, a directora da Transparência Internacional em Portugal para sustentar que ainda há muito por resolver, e não só em Angola. Isto, é claro se alguém tiver coragem de, como fez o Folha 8, dizer que quem viu ( como João Lourenço) roubar, ajudou a roubar e beneficiou do roubo é… ladrão.
“Os ‘ Luanda Leaks’ foram a chave para o aumento do activismo anticorrupção em Angola e trouxeram nova atenção para os contabilistas e outros que foram cúmplices no desvio sistemático de fundos públicos para ganho privado”, considerou Karina Carvalho, acrescentando: