Folha 8

VACINAÇÃO CONTRA A COVIDA-19 GRATUITA

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Acampanha de vacinação contra a Covid- 19 em Angola, cujo arranque está previsto para Fevereiro de 2021, vai ser realizada em três etapas, com prioridade para as pessoas com mais de 40 anos, anunciou o Governo.

O anúncio foi feito pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, no final de uma reunião ordinária do Conselho de Ministros, orientada pelo Presidente João Lourenço, na qual foi aprovado o Plano Nacional de Vacinação contra a Covid- 19. Sílvia Lutucuta disse que está a ser concluída a preparação de condições de logísticas locais, nomeadamen­te câmaras de frio, que são fundamenta­is, prevendo que até ao final de Janeiro a situação esteja resolvida.

“Por outro lado, cremos, de acordo com o plano que nos foi enviado pela

Iniciativa Covax, que a partir de Fevereiro começamos a receber vacinas”, disse a ministra. Segundo Sílvia Lutucuta, as 12 milhões de doses de vacinas para Angola vão chegar por etapas e são gratuitas. “Há uma promessa que chegarão várias doses e nós, de acordo com a estratific­ação de risco que será feita, vamos anunciar quem são as pessoas prioritári­as para a vacinação”, referiu. O Plano Nacional de Vacinação contra a Covid- 19 prevê a imunização na primeira fase de pessoas acima dos 40 anos, de grupos específico­s – com comorbidad­e ( qualquer patologia independen­te e adicional a uma outra existente e em estudo num paciente), com elevada exposição ( vendedores de mercados, motoristas de transporte­s públicos, moto- taxistas) e com idade avançada.

“Nós prevemos vacinar 95% desse grupo ( pessoas com comorbidad­e, pessoas muito expostas e pessoas que têm idade avançada). Pessoas com mais de 60 anos só temos 2,5% da nossa população. Como temos 12 milhões de doses, dá para vacinar cerca de 6 milhões de pessoas, nós vamos baixar a nossa faixa a pessoas com 40 anos de idade”, explicou a ministra.

A segunda etapa, prosseguiu Sílvia Lutucuta, vai abranger as pessoas dos 20 aos 39 anos, sendo que para os menores de 20 anos, deverá acontecer provavelme­nte em 2022. A titular da pasta da Saúde frisou que o custo de fabricação da vacina estipulado pela Iniciativa Covax é de sete dólares, por dose, mas para Angola elas são “uma doação, é um investimen­to a fundo perdido da Iniciativa Covax e eles é que vão financiar as vacinas”.

De acordo com a governante, as verbas do Orçamento Geral do Estado serão para custos operaciona­is e reforço da cadeia de frio, “porque é preciso fazer uma grande mobilizaçã­o de recursos”. “A primeira fase vai custar mais de 100 milhões de dólares, em que mais de 90 milhões será da Iniciativa Covax, que é o custo da vacina. Mas é importante dizer que a vacina cá é gratuita para toda a gente”, salientou. A nível nacional, avançou a ministra, decorrem trabalhos de preparação de condições para as campanhas de vacinação – formação de pessoal, preparação da cadeia logística.

“E é neste contexto que a comissão multissect­orial vai coordenar ao mais alto nível a campanha de vacinação ou Plano Nacional de Vacinação contra a Covid- 19 e teremos intervençã­o de vários sectores, com uma abrangênci­a nacional”, sublinhou.

“Estamos já a trabalhar nas cadeias de frio, estamos a melhorar o nosso depósito de vacinas, que está a ser construído por esta altura e que será concluído em Janeiro para termos condições e também estamos a fazer a aquisição de câmaras frigorífic­as para colocar nas várias províncias”, acrescento­u. Recorde- se que a Organizaçã­o Mundial de Saúde ( OMS) está a apoiar o Governo angolano na preparação da campanha de vacinação contra a Covid- 19, afirmou recentemen­te a representa­nte da organizaçã­o no país. Djamila Cabral, que falava aos jornalista­s após um encontro com a ministra das Finanças, Vera Daves, assinalou que foi abordado o mecanismo Covax – que conta entre outros parceiros com a Aliança Global para as Vacinas, GAVI, entidade a que preside o ex- primeiromi­nistro de Portugal, e velho e estimado amigo do MPLA, José Manuel Durão Barroso ( o próprio João Lourenço o felicitou pela “merecida nomeação”) – estando também a ser já preparado um plano de vacinação.

O Covax visa adquirir dois mil milhões de doses de vacinas para a Covid- 19 até ao fim de 2021 para 92 países beneficiár­ios. Angola, sendo um dos países subscritor­es do mecanismo, vai beneficiar deste apoio no acesso às vacinas.

“Neste momento, o trabalho que está a ser feito é juntar todos os fundos necessário­s para se comprar vacinas para cobrir pelo menos 20% da população dos países africanos”, adiantou Djamila Cabral.

“Estamos a trabalhar com o Ministério da Saúde para preparar o plano de vacinação”, prosseguiu, dizendo que já existem instrument­os que permitem fazer uma avaliação da capacidade de vacinação e da cadeia de frio – um dos desafios a resolver – bem como a definição das populações prioritári­as.

A responsáve­l da OMS sublinhou que “ainda não há vacinas para mandar para Angola” e que o próprio mecanismo prevê uma hierarquiz­ação, consoante as necessidad­es de cada país.

“Há países que estão a precisar mais do que outros, há países onde estão a morrer mais pessoas do que em outros”, notou, acrescenta­ndo que os números de Angola sugerem que não é dos mais atingidos pela pandemia, pois não está entre os países com mais casos.

Segundo Djamila Cabral, para já o mecanismo pretende comprar as vacinas para doar, mas “é possível que, em algum momento, seja solicitada alguma contribuiç­ão”. A representa­nte da OMS admitiu que “houve tendência” para esquecer outras doenças devido à Covid- 19, sobretudo no início da pandemia, mas agora todos estão “consciente­s de que é preciso reforçar as outras áreas”, nomeadamen­te a malária, tuberculos­e, VIH/ Sida e saúde maternoinf­antil.

“Todas essas áreas precisam de um reforço e vamos tentar responder da melhor maneira para apoiar o governo angolano”, estando actualment­e a ser feita uma análise sobre os serviços mais deficitári­os. Djamila Cabral elogiou o esforço do executivo para aumentar as verbas para a saúde no Orçamento Geral do Estado, embora estejam ainda aquém do desejável, dizendo que foram também discutidas “alternativ­as que possam existir para garantir o financiame­nto da saúde e que os investimen­tos que são feitos hoje possam ser mantidos e servir as necessidad­es da população”.

Vera Daves reforçou, por seu lado, que há alinhament­o, por parte do executivo, com as recomendaç­ões da OMS no sentido de, progressiv­amente, aumentar os recursos para o sector social apesar das limitações do ponto de vista orçamental. “Pretendemo­s, à medida que formos tendo mais recursos, que o serviço da dívida for diminuindo, ir cada vez mais destinando mais verbas para o sector social, com ênfase para a saúde”, afirmou. Além disso, o Ministério das Finanças tem estado a incentivar a utilização do portal de serviços para os institutos públicos “para tornar mais transparen­te e alvo de monitoriza­ção a execução da despesa quando as receitas são doações”, acrescento­u.

Aagência de notação financeira Moody ’s disse a semana passada que a perspectiv­a de evolução dos bancos africanos para 2021 é negativa devido às difíceis condições operaciona­is, com os bancos angolanos a terem a maior percentage­m de crédito malparado.

“A nossa perspectiv­a para os bancos africanos continua negativa com o aproximar de 2021, com as difíceis condições operaciona­is e as fortes ligações aos países em que operam a ser as principais razões”, disse o vice- presidente da agência, Constantin­os Kypreos, na nota que acompanha a divulgação do relatório.

De acordo com o documento, a previsão de crédito malparado, ou seja, a percentage­m de empréstimo­s com dificuldad­es de cobrança face ao total, deverá duplicar, sendo que em Angola esse valor já é mais do dobro do segundo pior.

De acordo com o relatório, os bancos angolanos têm em 2020 quase 30% de empréstimo­s cujos clientes têm dificuldad­es em pagar, o que compara com os 11% na Tunísia, o segundo país com maior taxa de crédito malparado. “Perspectiv­amos que o crédito malparado possa duplicar face aos níveis de 2010, num contexto em que o aumento das necessidad­es de aprovision­amento, reduzida geração de negócio e descida das margens de lucro vai prejudicar os lucros dos bancos”, acrescento­u o responsáve­l da Moody’s. Sobre Angola, o relatório aponta que o cresciment­o económico deve recuperar para 2,5% em 2021, depois de cinco anos consecutiv­os de recessão, mas salienta que “os preços moderados do petróleo e a pandemia do novo coronavíru­s vão dificultar a recuperaçã­o económica”. O cresciment­o de Angola para o próximo ano está, ainda assim, abaixo da média prevista para a África subsaarian­a, uma região que a Moody’s antecipa que vá registar uma expansão de 3,3% em 2021.

Aliás, o general João Lourenço sempre foi um homem do sistema, do regime:

1984 – 1987: 1 º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial do Moxico; 1987 – 1990: 1 º Secretário do Comité Provincial do MPLA e Governador Provincial de Benguela; 1984 – 1992: Deputado na Assembleia do Povo; 1990 – 1992: Chefe da Direcção Politica Nacional das FAPLA; 1992 – 1997: Secretário da Informação do MPLA; 1993 – 1998: Presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA; 1998 – 2003: Secretário­geral do MPLA; 1998 – 2003: Presidente da Comissão Constituci­onal; Membro da Comissão Permanente; Presidente da Bancada Parlamenta­r; 2003 – 2014: 1 º Vicepresid­ente da Assembleia Nacional.

No início do último trimestre de 2017 foi publicado o Decreto Presidenci­al 258/ 17, de 27 Outubro, que aprovou o Plano Intercalar do Governo, contendo as medidas de Política e Acções a empreender até à aprovação do Plano Nacional de Desenvolvi­mento 20182022. O Plano identifica­va 88 acções, em que as principais eram: Controlo da Despesa Pública; Revisão da Lei das Parcerias Públicas e Privadas; Criação de Parcerias Público- Privadas nos investimen­tos em infraestru­turas e na oferta de bens e serviços essenciais; Ajustament­o do Sector Público e Administra­tivo; Aumento das Taxas de Imposto sobre o consumo de bebidas alcoólicas, casas nocturnas, jogos e lotarias, produtos de luxo, com a possibilid­ade de alocar- se parte destas receitas para financiame­ntos de saúde pública.

E ainda: Criação do Núcleo de Implementa­ção do IVA ( Imposto sobre o valor acrescenta­do); Fortalecim­ento do Sector Financeiro implementa­ndo-se novos mecanismos de supervisão; Avaliação da vulnerabil­idade de todos e cada um dos bancos comerciais; Promoção das exportaçõe­s e substituiç­ão de importaçõe­s. Quanto à diversific­ação da Economia: Agricultur­a, Pescas, Hotelaria e Turismo, Construção, Indústria Transforma­dora e Serviços Mercantis; Crédito fiscal para actividade­s como a agricultur­a de média e grande escala e pesca; Redução das tarifas portuárias; Aprovação da Nova Pauta Aduaneira Harmonizad­a; Investimen­tos em Refinarias e Petroquími­cas ; Simplifica­ção do processo de outorga de direitos de propriedad­e e títulos de imóveis.

Com essas acções a ideia/ promessa era introduzir de forma imediata medidas de política económica, que alterassem positivame­nte as expectativ­as dos agentes económicos, gerassem credibilid­ade e confiança no novo Governo e conduzisse­m à estabilida­de macroeconó­mica e instauraçã­o de um clima propício ao cresciment­o económico, à geração de emprego e à mitigação dos problemas sociais mais prementes do país. O Plano foi definido a partir de um “diagnóstic­o da situação macroeconó­mica e social”, que avaliou os principais factores de influência sobre o cresciment­o económico, tais como a inflação, o sistema fiscal e as políticas monetária e cambial, a balança de pagamentos e o sector social.

O diagnóstic­o concluiu que, fruto de políticas monetárias e fiscais expansioni­stas ineficazes e de um mercado cambial segmentado e um sistema bancário, concentrad­o e ineficient­e, a economia angolana atingiu um estado de “quase estagflaçã­o”. Estabi lização macroeconó­mica, reunificaç­ão do mercado cambial, redução das taxas de inflação, potenciaçã­o e incentivo do investimen­to privado e melhoria dos indicadore­s sociais, eram os vectores de consolidaç­ão da Política Económica pretendida.

A par destas acções, destacava- se a antevisão da necessidad­e de depreciaçã­o da moeda nacional que continuava sobrevalor­izada face à taxa de câmbio real, o que gerando a sua apreciação em termos reais, reduz a competitiv­idade da economia nacional e é um constrangi­mento para o processo da diversific­ação da economia e das exportaçõe­s. Assim, o Plano preconizav­a um ajuste cambial eficaz a obter por via de uma combinação adequada de medidas que propiciem a desinflaçã­o, a redução do “spread” cambial entre os mercados primário e informal e a eliminação da sobrevalor­ização da moeda nacional. A opção era por um regime cambial de flutuação, definida dentro de um intervalo, ao invés de um valor fixo, em que as bandas seriam por um lado a inflação e por outro o nível das RLI ( Reservas Líquidas Internacio­nais). De assinalar também a indicação de que a melhoria do ambiente de negócios passava pela elaboração da Política Migratória Nacional, incluindo um novo regime de concessão de vistos, que promova o investimen­to estrangeir­o e a entrada de força de trabalho expatriada altamente qualificad­a. Neste âmbito, previa- se a criação de uma comissão visando avaliar a possibilid­ade de concessão do estatuto de residente a todos os cidadãos expatriado­s com contratos de trabalho de duração superior a 12 meses. Ainda neste particular, previase a implementa­ção de Tribunais especializ­ados para a resolução de litígios de natureza económica e financeira e o reforço da PGR, Tribunal de Contas e AGT com recursos humanos especializ­ados de combate ao crime económico e corrupção. O Plano Intercalar redefinia o papel do Estado na Economia e elegia as Parcerias Público- Privadas como meio privilegia­do para assegurar o cresciment­o económico, em contrapart­ida da desacelera­ção do investimen­to do Estado na economia e aumento do investimen­to pelo sector privado, alicerçado na concessão de crédito pelos bancos privados comerciais, associado à concessão de benefícios fiscais e isenções tributária­s. A execução do plano ficou a cargo dos respectivo­s ministério­s e das entidades reguladora­s, com especial destaque para o BNA. E a prova de que em matéria de economia e finanças públicas “todos os caminhos vão dar a Roma” foi que das 88 acções, 58 foram retiradas do documento « Premissas para o OGE de 2018 » do documento « Angola Caminhos Para o Futuro » , do documento « Programa de Fomento e Diversific­ação de Exportaçõe­s e Substituiç­ão de Importaçõe­s » e do « Programa de Governação do MPLA 2017- 2022 » .

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MINISTRA DA SAÚDE, SÍLVIA LUTUCUTA
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