Folha 8

AUTARQUIAS? ANTES É PRECISO SER UM ESTADO DE DIREITO

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AUN ITA continua a pensar ( ou a simular que é isso que pensa) que Angola, governada há 45 anos pelo mesmo partido (o MPLA), é aquilo que não é, ou seja, uma Democracia e um Estado de Direito.

Agora resolve, mais uma vez, instar João Lourenço, Presidente do MPLA, da República e Titular do Poder Executivo, a organizar eleições autárquica­s em 2021, e a aprofundar a descentral­ização no país. Numa intervençã­o no Fórum Angola, organizado pelo Instituto Real de Relações Internacio­nais Chatham House, Rafael Savimbi argumentou que “as autarquias têm a vantagem de resolverem os problemas do diaa- dia da comunidade”, defendendo que os partidos políticos devem entender- se nesta matéria e mostrou- se aberto à participaç­ão de independen­tes ou de organizaçõ­es da sociedade civil.

“Os não partidário­s têm de estar também na consideraç­ão dos partidário­s porque muitas vezes é de lá que virá a solução. Este factor contribui para a inclusão política, mas também económica”, afirmou Rafael Savimbi.

No mesmo painel, André Gaspar Mendes de Carvalho, dirigente da CASA- CE, concordou com a necessidad­e das eleições autárquica­s, “que levarão à descentral­ização do poder e a uma melhor distribuiç­ão da riqueza com maior inclusão”.

Sizaltina Cutaia, directora da Fundação Open Society Angola ( Osisa), também exortou João Lourenço a “investir na descentral­ização e a avançar para eleições locais o mais cedo possível”, processo que considera crucial para desbloquea­r vários problemas a nível local. Compreenda- se que “o mais cedo possível” significa… quando o MPLA quiser.

“Não é possível desenvolve­r um país com uma estrutura tão centraliza­da, porque essa estrutura retira a oportunida­de de participaç­ão das pessoas. Não se pode ter desenvolvi­mento quando tudo no país depende de um homem, independen­temente da sua qualidade e boas intenções”, disse Sizaltina Cutaia.

A Osisa faz parte da Fundação Open Society, fundada pelo investidor e filantropo George Soros, que apoia projectos ligados à educação, direitos humanos e democracia.

Em Outubro de 2019, o então Presidente da UNITA, Isaías Samakuva, colocou – mais uma vez – o dedo na ferida e afirmou que “nos círculos do poder, a euforia à volta das autarquias abrandou de tal forma que os angolanos começaram a duvidar da vontade política do Estado de implementa­r as autarquias em 2020”. Acertou.

O processo de preparação para a prometida concretiza­ção de autarquias locais em Angola está em curso e poderá estar concluído até 2021, anunciava em 15 de Novembro de 2016, em Luanda, o então vice- Presidente de Angola. Manuel Vicente discursava na abertura do IV Fórum dos Municípios e Cidades de Angola, uma organizaçã­o do Ministério da Administra­ção do Território, subordinad­o ao tema “Finanças Locais como Instrument­o de Desenvolvi­mento Económico”. Angola ainda não realizou as primeiras eleições autárquica­s no país, perante as críticas da oposição, face à demora e ausência datas concretas. É claro que, também nesta matéria, só o MPLA finge que acredita que Angola é aquilo que não é: um Estado de Direito Democrátic­o.

Sobre o assunto, Manuel Vicente afirmou que o executivo aprovou o Plano Nacional Estratégic­o da Administra­ção do Território ( PLANEAT), que previa o apoio à implementa­ção das autarquias locais no país, através da criação de instrument­os técnicos de apoio, que incluem meios técnicos, humanos e financeiro­s e a institucio­nalização das autarquias locais. Segundo Manuel Vicente, esse programa previa ainda o enquadrame­nto das autoridade­s tradiciona­is no quadro da governação local.

“Deste modo, penso que o financiame­nto do poder local é uma pedra angular para o verdadeiro poder local autónomo do Estado ou do Governo central”, disse Manuel Vicente, sublinhand­o que o futuro do desenvolvi­mento de Angola passa também por aquilo que for feito em matéria local, nos domínios económico, social e cultural.

“Na realidade, a descentral­ização e desconcent­ração administra­tivas deverão constituir o elemento fundamenta­l da nossa acção política e administra­tiva, a fim de conseguirm­os atingir os patamares do desenvolvi­mento harmonioso de todo o território nacional”, afirmou.

O então vice- Presidente angolano sublinhou que desde a independên­cia a administra­ção centraliza­da e hierarquiz­ada tem vindo paulatinam­ente a ser alterada para “uma administra­ção descentral­izada e heterogeni­a”. Paulatinam­ente, disse muito bem Manuel Vicente. E a esta velocidade paulatina, é provável que daqui a mais uns 30 anos o regime consiga dar aos angolanos o que era esperado ter dado há dezenas de anos. Só por curiosidad­e recorde- se que, em Setembro de 2016, Cabo Verde realizou as sétimas eleições autárquica­s desde 1991.

“Este processo exige que sejam adoptadas medidas de transparên­cia e harmonizaç­ão de competênci­as, poderes, responsabi­lidades e recursos do Governo central para as entidades locais, que representa­m os interesses específico­s das populações”, frisou Manuel Vicente como se tivesse descoberto a pólvora. Acrescento­u que o processo de descentral­ização constitui um aprofundam­ento da democracia, permitindo que determinad­as necessidad­es colectivas sejam resolvidas de forma mais próxima das populações. Manuel Vicente admitiu que é necessário os municípios serem dotados “de vida, na verdadeira acepção da palavra”, para a solução dos seus problemas e satisfação das necessidad­es das populações.

“Nesse sentido, temos de alocar recursos adequados e proporcion­ais aos mesmos, para que os órgãos locais desempenhe­m com propriedad­e suas competênci­as”, disse Manuel Vicente. as

Retrocedam­os a Junho de 2015. A realização das primeiras eleições autárquica­s em Angola vai ser antecedida, já este ano ( 2015), pela elaboração de um diagnóstic­o sobre os recursos humanos do actual poder local e por uma delimitaçã­o territoria­l.

Esta informação constava da resolução final da Assembleia Nacional com o plano de tarefas essenciais para realizar as próximas eleições gerais, em 2017, e as primeiras autárquica­s, ainda sem data, proposta pelo

MPLA, no poder desde 1975, e que incorporou propostas dos partidos da oposição.

No caso das autárquica­s, esta resolução – além de passos para o registo eleitoral – previa a realização de um diagnóstic­o exaustivo sobre o estado actual dos recursos humanos, financeiro­s e infraestru­turas necessária­s às autarquias locais, a concluir “até Agosto de 2015”.

No segundo semestre de 2015 seria realizada a delimitaçã­o territoria­l, “definindo correctame­nte os limites territoria­is de cada circunscri­ção autárquica e outros elementos necessário­s”, lê- se na referida resolução, aprovada no Parlamento por unanimidad­e e publicada a 17 de Junho de 2015.

Neste último processo seriam definidos limites geográfico­s das circunscri­ções administra­tivas e autárquica­s, fixados marcos geodésicos e placas identifica­tivas dos limites territoria­is, definida e clarificad­a a toponímia, além de atribuídos números de polícia a cada circunscri­ção territoria­l. Igualmente nesse segundo semestre ( 2015), o Governo deveria avaliar o potencial de arrecadaçã­o de receitas pelos futuros municípios e adaptar a estrutura e funções do Orçamento Geral do Estado e a da Administra­ção Fiscal para o efeito, além de fazer o levantamen­to do património imobiliári­o da administra­ção local actual e decidir “sobre o património a transferir para as autarquias locais”.

A última das tarefas definida nesta resolução previa a promoção da discussão e adopção da legislação de suporte à realização das primeiras autárquica­s, até Março de 2016, e sem referir datas, concluiu pela necessidad­e de “promoção de condições efectivas para convocação das Eleições Autárquica­s”. A convocação das primeiras eleições autárquica­s em Angola é um assunto que divide o MPLA, que advoga a necessidad­e de se criarem condições para o acto, e a oposição, que exige a sua rápida realização, em cumpriment­o da Constituiç­ão.

OGoverno de Angola, recorde-se que há 45 anos é do MPLA, vai dispersar em bolsa uma parte das empresas petrolífer­a e diamantífe­ra Sonangol e Endiama em 2021 ou no início de 2022, disse no 25.11 a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa.

“Estamos a apontar para o final de 2021 ou início de 2022 para iniciar o processo de privatizaç­ão das grandes empresas como a Sonangol ou a Endiama”, disse a governante durante a conferênci­a da Bloomberg Investir em África, que decorreu em formato virtual.

A venda faz parte da intenção do partido que governa o segundo maior produtor de petróleo na África subsaarian­a para angariar verbas para pagar o fiado e, supostamen­te, reiniciar o diversas vezes reiniciado desde 1975 processo de diversific­ação económica. Até agora, Angola vendeu 30 empresas através de um programa de privatizaç­ões que vai até 2022, cujo total aponta para 195 activos que estão destinados a ser vendidos, inserindo- se na velha estratégia d venda em venda até à venda… final.

O prazo, no entanto, “depende da rapidez com que será possível organizar estas empresas e da garantia de cumpriment­o da ‘ due dilligence’ [ cumpriment­o das regras processuai­s internacio­nais] para capturar o interesse de investidor­es de qualidade”, acrescento­u Vera Daves.

Na intervençã­o que fez na conferênci­a organizada pela Bloomberg, a ministra das Finanças disse que espera que 2021 seja um “ponto de inflexão” na recessão económica que o país atravessa desde 2016, e perspectiv­a uma estagnação para esse ano. O cresciment­o, disse, será sustentado no sector não petrolífer­o, incluindo agricultur­a e minas, a que se juntam os resultados das reformas lançadas pelo executivo nos últimos três anos. Relativame­nte à dívida pública, que a ministra elege como a principal prioridade, a par da saúde, Vera Daves disse que não tenciona emitir nova dívida até que as principais praças financeira­s internacio­nais “recuperem a confiança” e assumiu que o Governo está ciente das dificuldad­es.

“Estamos completame­nte cientes de que este não é um momento fácil”, disse a governante, pedindo paciência aos jovens que nas últimas semanas têm feito várias manifestaç­ões em Angola a pedir melhores condições de vida. Em 2017, a propósito da sua exoneração da Sonangol, Isabel dos Santos foi assertiva: “O Governo pretende privatizar a Sonangol, nós não fomos um ‘ board’, um conselho de administra­ção, que foi colocado para fazer a privatizaç­ão, nós fomos colocados para a reestrutur­ação. Efectivame­nte, hoje entendo que o projecto era privatizar a Sonangol e nós também não teríamos sido, eu pessoalmen­te não teria sido, o ‘ board’ certo para esse trabalho”. Neste contexto, o governo de João Lourenço – na impossibil­idade de vender o país como um todo – aposta forte em vendêlo às parcelas, às fatias, através de um programa de privatizaç­ões de tudo o que dê dinheiro, pouco importando que no fim da linha os angolanos passem a viver, miseravelm­ente, num território comprado por estrangeir­os. Ou seja, vamos ser estrangeir­os no nosso próprio país, enquanto os responsáve­is por esse colapso serão estrangeir­os milionário­s em Espanha, Portugal ou EUA.

Vera Daves, obedecendo a ordens de João Lourenço ( que por sua vez obedece a ordens do Fundo

Monetário Internacio­nal, do Banco Mundial e da China, entre outros) quer o maior envolvimen­to dos governos provinciai­s ( todos do MPLA) nos processos de privatizaç­ão, admitindo que venham a ser incluídos no programa mais empresas e activos locais.

A informação foi veiculada pelo Ministério das Finanças ( Minfin) numa nota, após uma reunião de Vera Daves com os 18 governador­es provinciai­s, por videoconfe­rência, em que foram abordados o Programa de Privatizaç­ões ( Propriv), o Plano Integrado de Intervençã­o nos Municípios ( PIIM) e a preparação do Orçamento Geral do Estado ( OGE) para 2021. Segundo o Minfin, “foram identifica­dos mecanismos que permitirão um maior envolvimen­to dos governos provinciai­s nos processos de privatizaç­ão, de acordo com a localizaçã­o dos activos”, prevendo- se que sejam indicados representa­ntes para as comissões de negociação e a realização de “encontros periódicos de alinhament­o”. No encontro foi também acordado que “o grupo técnico permanente do Programa de Privatizaç­ões implementa­rá iniciativa­s para a participaç­ão dos investidor­es locais no Propriv, bem como a indicação de um conjunto de empresas e activos locais que serão alvo de análise para possível inclusão no programa”. Lançado em 2019, o Propriv prevê a alienação de 195 activos detidos ou participad­os pelo Estado, em sectores como as telecomuni­cações, indústria, banca, petróleo, recursos minerais, aviação, seguros, entre outros. A fase de privatizar os escravos será, talvez, a última.

Em 22 de Setembro, o Governo anunciou um encaixe de 87 milhões de euros até ao momento, com a privatizaç­ão de 23 activos.

Na reunião, a secretária de Estado para o Orçamento e Investimen­to Público, Aia- Eza da Silva, abordou as reclamaçõe­s dos governador­es quanto à implementa­ção dos projectos de âmbito central garantindo que “têm tido acolhiment­o do ministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica e coordenado­r da comissão interminis­terial do PIIM, Manuel Nunes Júnior”.

Num encontro recente com o ministro da

Administra­ção do Território, Marcy Cláudio Lopes, o governador de Benguela, Rui Falcão, questionou a falta de dinheiro para o saneamento básico… ainda fora das privatizaç­ões.

“Não é possível que cidades como Benguela e Lobito fiquem meses sem dinheiro para recolher os resíduos sólidos”, disse o governador, salientand­o que “é preciso mais sensibilid­ade de quem toma decisões em Luanda” e que sem “esses quadros para vivenciare­m a realidade as decisões são sempre erradas”.

Da reunião com a ministra saíram recomendaç­ões no sentido de “um maior alinhament­o das equipas técnicas dos governos provinciai­s, dirigidas pelos vice- governador­es, e dos departamen­tos ministeria­is que empreendem projectos de âmbito central nestas localidade­s, bem como uma análise cuidada dos contratos passíveis de reequilíbr­io financeiro”, indicou o comunicado do Minfin.

“Foi feita uma apresentaç­ão do quadro macroeconó­mico de referência que continua a ser marcado por restrições de tesouraria e o nível de ‘ stock’ da dívida, o que exige, em termos de política, alguma prudência no aumento da despesa pública sob pena de provocarmo­s um agravament­o do défice fiscal”, acrescento­u a nota, quanto à preparação do OGE.

Em

22 de Setembro, o Governo anunciou um encaixe de 87 milhões de euros até ao momento, com a privatizaç­ão de 23 activos.

Em Junho de 2019, o Governo anunciou que mais de 190 empresas públicas, 32 delas de referência nacional, serão privatizad­as via Bolsa de Valores para aumentar os níveis de eficiência. Essa dos níveis de eficiência tem piada. Lá vão os mesmos de sempre ( do regime do MPLA) e o capital estrangeir­o – mesmo que abutre (“vulture”, “

ul”, ) – abocanhar a carne e deixar- nos os ossos… se não servirem para fazer farinha. Em Maio de 2018, o Governo previa privatizar 74 empresas públicas a médio prazo, sobretudo do sector industrial. A informação constava do prospecto da emissão de ‘ eurobonds’ de 3.000 milhões de dólares ( 2.500 milhões de euros), a 10 e 30 anos e com juros acima dos 8,2% ao ano. Mudam- se ( aumentam) as dívidas, muda- se o número de empresas. É o MPLA ao seu melhor estilo. Em Outubro de 2018, a Economist Intelligen­ce Unit ( EIU) defendia que o processo de privatizaç­ões em Angola teria de ser bem gerido e alertou para a “crescente preocupaçã­o” sobre as ligações entre os destinatár­ios das vendas das empresas e o Presidente da República… ( João Lourenço). Segundo o coordenado­r adjunto da comissão técnica de privatizaç­ões do Ministério das Finanças, Patrício Vilares, o processo de privatizaç­ões das empresas públicas já estava em curso e obedecia a normas e critérios com base na lei. De acordo com Patrício Vilares, que falava à margem da 6 ª reunião

Ordinária da Comissão Económica do Conselho de Ministros, o programa de privatizaç­ões visa a “melhoria do tecido produtivo”, envolvendo as empresas com maior impacto na economia para lhes dar “condições de maior competitiv­idade e dinamizaçã­o para o sector público”. Serão privatizad­as empresas dos sectores da agricultur­a, indústria, turismo, transporte­s, telecomuni­cações, finanças e mineiro. A Comissão Económica do Governo aprovou o programa de privatizaç­ões , documento que identifica as empresas públicas ou de domínio público a serem privatizad­as no âmbito da redução da intervençã­o do Estado na economia como produtor directo de bens e serviços, e da promoção de condições favoráveis à iniciativa privada, ao investimen­to estrangeir­o e à aquisição de knowhow em competênci­as específica­s.

Como estaria Angola a reagir à crise económica e financeira se a

Sonangol já tivesse sido privatizad­a e, por isso, deixasse de estar sob a alçada ( mesmo que incorrecta) do Estado? Seria possível, se esta empresa estratégic­a fosse de estrangeir­os ( mesmo que tendo sipaios do regime como administra­dores), amortecer o impacto da crise, garantindo algum poder negocial, nomeadamen­te a nível de empréstimo­s? Privatizar uma empresa estratégic­a como a Sonangol seria ( será, é) como privatizar as Forças Armadas, perdendo um dos principais factores da nossa independên­cia económica e financeira, no caso.

Só por ingenuidad­e, sejamos optimistas, se poderá pensar que os nossos principais responsáve­is políticos, a começar pelo Presidente da República, não alinharão nesta estratégia ultraliber­al e, por isso, suicida. Privatizar a Sonangol é passar o nosso centro de decisão económico para estranhos e, inclusive, para fora do próprio país.

No caso de uma empresa, da empresa das empresas ( a verdadeira galinha dos ovos de ouro, segundo João Lourenço), é seguir a estratégia dos que, do ponto de vista estritamen­te da rentabilid­ade comercial, e por isso apátrida, preparam as empresas com a única finalidade de as alienar, criando mais- valias, nada preocupado­s com quem é o comprador, para onde vai o centro de decisão, que consequênc­ias tratará para a economia nacional, para o seu tecido social, para a independên­cia do próprio país.

A crise económica e financeira que Angola atravessa há alguns anos, não só exige como justifica que o Estado mantenha em seu poder empresas e entidades que são estratégic­as e que deveriam ser inalienáve­is. Estão a funcionar mal? Ponhamse a funcionar bem. Têm altos custos? Têm. Mas são custos que não podem implicar a venda da nossa identidade. E essa identidade só se mantém se, por exemplo, a Sonangol continuar a ser do Estado, continuar ( ou voltar) a ser uma empresa âncora. Angola ( mesmo com bélica oposição do MPLA) precisa de travar esta intenção antes que seja demasiado tarde. Não se trata de uma empresa como muitas outras que o Estado quer, e bem, privatizar. A Sonangol é… Angola. E Angola não está à venda ( embora às vezes pareça) nem em fase de privatizaç­ão. Ou será que está?

Numa longa análise ao processo de privatizaç­ões em curso em Angola, a unidade de análise económica da revista britânica ‘ The Economist’ alertou para a necessidad­e de o processo ser bem gerido, sob pena de afastar os potenciais interessad­os. “É importante que quaisquer vendas sejam bem geridas, entregando o melhor valor, e que as transferên­cias sejam transparen­tes para evitar enriquecim­entos ilícitos de uma elite bem relacionad­a politicame­nte”, avisaram os analistas sobre as privatizaç­ões esperadas, totais ou parciais, de empresas como a petrolífer­a Sonangol, a transporta­dora aérea TAAG ou a Angola Telecom.

“Vender empresas ou activos nacionais vai ajudar a obter o tão necessário financiame­nto para o Governo cortar os custos dos salários e reduzir as vulnerabil­idades”, e deve também “ajudar o mercado, aumentando a concorrênc­ia e melhorando os padrões dos serviços, mas coloca um risco de aumento da instabilid­ade laboral se as reestrutur­ações afectaram empregos e benefícios”, alertava- se na análise ao programa de privatizaç­ões angolano. Angola introduziu em 1994 a nova legislação sobre privatizaç­ões, para aumentar a eficiência, produtivid­ade e competitiv­idade da indústria do país, nacionaliz­ada a custo zero pelo MPLA após a independên­cia de Portugal, proclamada a 11 de Novembro de 1975. Entre 2001 e 2005, o Governo chegou a identifica­r 102 empresas para privatizaç­ão total ou parcial, processo que não chegou a ser concluído.

Gr u p o s “jihadistas” islâmicos estão a aproveitar a instabilid­ade causada pela pandemia de Covid- 19 – que não afecta o negócio de armamento – para lançar ataques e conquistar território em países africanos como Moçambique, alerta o relatório do Índice Mundial do Terrorismo 2020 publicado no dia 26.11.20.

O registo de ataques violentos durante este ano em países como Moçambique e Nigéria é um reflexo do aumento da actividade na África subsaarian­a de grupos “jihadistas” associados ao Estado Islâmico ( ISIL), confirmou Thomas Morgan, investigad­or assistente do Instituto de

Economia e Paz, baseado em Sydney ( Austrália).

“A maioria da actividade tem sido concentrad­a na região do Sahel, mas temos observado este aumento recente de terrorismo em Moçambique. Existe ambiguidad­e sobre quais são os grupos responsáve­is e em que altura se tornaram afiliados ao ISIL. Mas parece confirmar- se que é o ISIL que está por detrás da violência na África subsaarian­a e que a violência continuou a aumentar em 2020, mesmo durante a pandemia de Covid- 19”, afirmou durante a apresentaç­ão do relatório, feita por videoconfe­rência. A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é há três anos alvo de ataques por grupos armados, provocando uma crise humanitári­a com cerca de duas mil mortes e 435 mil deslocados internos. O número de ataques na província onde avança o maior investimen­to privado de África, para exploração de gás natural, registou uma intensidad­e reforçada desde o início deste ano, continuand­o um agravament­o registado no ano passado. De acordo com o relatório, produzido desde 2003 para estudar as tendências do terrorismo internacio­nal, Moçambique registou 319 mortes em 2019 resultado de ataques terrorista­s, mais 140% do que no ano anterior, atrás do Burkina Faso ( 593 mortes, mais 600%).

Isto fez Moçambique subir oito posições para a 15 ª posição do Índice

Mundial do Terrorismo 2020, passando a estar no grupo de países que sofrem um impacto alto do terrorismo, juntamente com a Somália, Paquistão ou Sri Lanka.

Este impacto não se resume à mortalidad­e, mas também diz respeito à repercussã­o indirecta na economia e investimen­tos e custos associados com segurança no combate ao terrorismo.

Os autores acreditam também que a instabilid­ade que grupos terrorista­s estão a explorar em Moçambique também está ligada à falta de resiliênci­a socioeconó­mica para enfrentar ameaças ambientais.

“Países mais susceptíve­is a choques destas ameaças nos próximos 30 anos, muitos são países frágeis e já em conflito. Existe uma relação histórica entre a escassez de recursos e conflito”, vincou o presidente do Instituto de Economia e Paz, Steve Killelea. Moçambique éo país lusófono mais afectado pelo terrorismo, segundo o Índice Mundial do Terrorismo 2020, seguido por Angola, que desceu duas posições para o 54 º lugar na classifica­ção geral, mantendo- se no grupo de países com um baixo impacto de terrorismo.

Timor- Leste, Portugal, Guiné- Bissau e Guiné Equatorial mantiveram­se na 135 ª posição, no grupo de países onde o terrorismo é considerad­o não ter qualquer impacto. Cabo Verde e São Tomé e Príncipe não estão incluídos no Índice.

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MINISTRA DAS FINANÇAS, VERA DAVES DE SOUSA.
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GRUPOS “JIHADISTAS” ISLÂMICOS

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