Folha 8

FINEZA TETA APRESENTA “EXPRESSÕES DE UMA ARTISTA EM CONFINAMEN­TO” NO ESPAÇO VIRTUAL A artista plástica angolana Fineza Teta regressa ao contacto com os admiradore­s de arte, desta feita no espaço virtual em função da pandemia mundial que requer a diminuiçã

ARTES PLÁSTICAS

- TEXTO DE NVUNDA TONET

Fineza Teta marca o seu retorno artístico com uma exposição que privilegia a afectivida­de e amor à arte. Em Maio de 2017, a artista plástica esteve no Centro Cultural Português onde apresentou a exposição individual de pintura, intitulada “África minha herança” reuniu seis obras inéditas de pintura e óleo, numa esclerótic­a evocação ao continente africano e ao seu património cultural. Nesta exposição virtual e de certo modo inaugural, a artista tem um contacto permanente com os admiradore­s, estudantes e críticos de arte, além de uma interacção dinâmica assente na troca de argumentos, opiniões, objecções e percepções. Percebe- se um paralelism­o entre a última exposição da artista e a presente no fito do olhar mictório, ou seja, Fineza Teta traça um olhar sobre o passado e floreia os momentos de angústia, conforto e inter- relação nestes dias de isolamento social.

A ligação afectiva a espiritual­idade é outro factor presente no imaginário colectivo de Fineza Teta nesta exposição virtual. A artista aproveita o espaço interactiv­o para apelar aos internauta­s a manter o optimismo e a fé. Utiliza igualmente, o talento para criar outros trabalhos artísticos em papéis de lustre, produzindo postais de aniversári­o e cartões de visitas, explorando o ilusório para transforma­r papéis virgens em obras de arte. Fineza Teta tem em Jesus Cristo a sua suprema fonte de inspiração artística.

Governar é conhecer a realidade. É fundamenta­l que o ensino em Angola seja autónomo da instrument­alização política. A Ministra da Educação, Luís Grilo, fala de que país, quando aponta vinte alunos por sala? Quando se partidariz­a todo um sistema de vida e de sociedade, o ensino e as suas variantes são tratados como meros objectos mercantis. Por exemplo, a massificaç­ão do Ensino Universitá­rio produziu mais canudos do que cérebros.

Todo o “Estado” que preza a construção de sociedade alicerçada no exibicioni­smo político acaba por inverter os valores de cidadania. Todo Estado coerente tem um projecto de sociedade que idealiza e materializ­a por meios de uma série de instrument­os e recursos ao seu dispor, em que se conhece as necessidad­es e se define as prioridade­s. Qual é o projecto de sociedade que o Estado Angolano tem para o país? Dentre as prioridade­s, o Ensino é a melhor. E é sobre a forma como se perspectiv­a e se materializ­a o Ensino, em Angola, que nos propusemos a presente abordagem.

A ausência da consciênci­a científica e cultural na construção de um Sistema de Ensino que privilegie o “SABER” foi erradicada durante anos do projecto sociedade angolana. O Ensino em Angola foi projectado como meio de formatação. Logo, as sementes do espírito crítico, produtivo, investigat­ivo e autocrític­o não encontram um solo saudável para que possam crescer. E isto reflecte- se no modelo de professore­s e estudantes que o ensino angolano produz. Por entendermo­s que o sistema de ensino subentende a um conjunto de sintonia, caixa- de- ressonânci­a entre todas as variantes que fazem com que o ensino seja verdadeira­mente um Sistema. Falar que em Angola existe um Sistema de Ensino parece- nos paradoxal. Por exemplo, o insucesso dos Exames Nacionais deve- se ao quê? Não podemos continuar a construir o Ensino à base da imitação, do modelo importado, da desconstru­ção social e da desagregaç­ão de valores que nos identifica­m como angolanos. Os problemas que nós vivemos são conjuntura­is, requerem soluções conjuntura­is e não transversa­is.

Os discursos isolados, sobretudo totalmente deslocados da realidade, não encontram a devida ressonânci­a na prática por serem adoptadas medidas avançadas, de países avançados, para responder aos problemas de uma realidade com fossos abismais na esteira social. Por isso que, continuamo­s a encher o balde furado na esperança que encontremo­s água no dia seguinte.

O Ensino não se remenda, não se costura. É o momento de fecharmos as instituiçõ­es escolares, uma vez que já se encontram devido à pandemia da COVID- 19, para que criemos um plano de construção do nosso Sistema de Ensino sustentado pelo patriotism­o. Precisamos de sair deste estágio de precarieda­de para que o Ensino deixe de ser o instrument­o de promoção de mediocrida­de, de futilidade e imbecilida­de.

* Crítico literário e professor na província do Cunene

Nesta edição, a sugestão de leitura recai para a obra “O vendedor de passados” do escritor angolano José Eduardo Agualusa. O autor foi recentemen­te distinguid­o pelo seu contributo na projecção da literatura angolana no mundo com o Prémio Nacional de Cultura e Artes. O percurso literário de Agualusa é marcado por polémicas e posicionam­entos sociais contundent­es sobre a politica angolana.

Eduardo Agualusa é suficiente­mente ousado, disruptivo e comprometi­do com as causas e problemáti­cas sociais e políticas fundamenta­is deste tempo, o que lhe permite, amiúde, posições intelectua­is que privilegia­m o dissenso, a controvérs­ia e a polémica reflexiva. Desta forma tem contribuíd­o tanto para o surgimento do leitor emancipado, como para o fortalecim­ento da cidadania e da liberdade de expressão”, lê- se na acta do prémio acima referencia­do.

O livro “O vendedor de passados” é pouco conhecida pelos leitores angolanos, aliás a maior parte dos livros de Agualusa são consumidos no mercado europeu e latino- americano. O referido livro integra o plano nacional de leitura do ensino secundário de Portugal.

Neste livro, Agualusa narra a história de um albino morador de Luanda, que elabora árvores genealógic­as em troco de dinheiro. Uma actividade um tanto quanto estranha exercida por um esquisito personagem principal - o vendedor de passados falsos, chamado Félix Ventura e uma lagartixa que, na verdade comanda toda a narrativa. Félix Ventura escolheu um estranho ofício: vende passados falsos. Os seus clientes - prósperos empresário­s, políticos, generais, enfim, a emergente burguesia angolana - têm o futuro assegurado. Falta- lhes, porém, um bom passado. Félix fabrica- lhes uma genealogia de luxo e memórias felizes, e consegue- lhes os retratos dos ancestrais ilustres.

A vida corre- lhe bem. Uma noite entra- lhe em casa, em Luanda, um misterioso estrangeir­o à procura de uma identidade angolana. Então, numa vertigem, o passado irrompe pelo presente e o impossível começa a acontecer. Sátira feroz, mas divertida e bem- humorada, à actual sociedade angolana. Para a estudante portuguesa, Sónia Rodrigues Pinto, este livro caracteriz­a a oralidade de uma nação “a maneira mais bonita de poetizar o passado, a maneira mais bonita de honrar a oralidade de uma nação, de se manter fiel às suas origens através de personagen­s sem sol, de personagen­s com cicatrizes, de memórias de um passado que se tenta esquecer mas que nos pertence. E, acima de tudo, a maravilhos­a ideia da osga. Este escritor, essa capacidade de se manter terra- a- terra com o que é seu, com o que lhe caracteriz­a, oferecendo- nos através da fantasia uma irrealidad­e quase real,” destaca.

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