Folha 8

ERA UMA VEZ O PETRÓLEO ERA UMA VEZ O… MPLA!

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Os países do golfo Pérsico e a Rússia serão os “vencedores”, num contexto de preços do petróleo baixos, enquanto países como Brasil e Angola perdem atractivid­ade para investimen­tos na produção, afirma o presidente executivo da Partex. Lá se vai a galinha dos ovos de ouro do MPLA.

“Vai haver um colapso muito grande no mundo da procura e é evidente que quem vender petróleo e gás a preços mais baixos e mais competitiv­os serão os vencedores. E estes serão tradiciona­lmente os países do Golfo Pérsico, com custos de produção muito baixos, e a Rússia”, afirmou numa entrevista à Lusa António Costa e Silva. Como exemplo, o gestor apontou a Arábia Saudita onde o custo do petróleo “é da ordem dos 3,3 dólares por barril”. Portanto, a Arábia Saudita tem sempre, com os Emirados Árabes Unidos e o Kuweit, “vantagens competitiv­as”, reforçou, e a Rússia também, porque embora tenha custos de produção mais elevados, tem certas vantagens, uma delas é o facto de “o rublo ( moeda russa) não estar indexado ao dólar, ao contrário das moedas de todos os países da Península Arábica”.

“Há vantagens e inconvenie­ntes neste cenário global, mas claramente os grandes produtores mundiais do Golfo Pérsico e a Rússia serão ganhadores”, rematou.

Ao contrário, “muitos dos outros países que têm custos de produção mais elevados, como a Argélia, ou têm problemas muito difíceis de fragmentaç­ão política, como a Líbia, o Iraque, a Venezuela – que está numa situação extremamen­te crítica – e países como a Nigéria e Angola, que têm muita da sua produção ` off- shore’ [ em mar], e em que já não tem havido investimen­to nos últimos anos, não tem havido novos campos para repor a produção e os custos são elevados, vão ter bastantes mais dificuldad­es para se continuare­m a afirmar no mercado mundial”, considerou.

Angola, que aderiu recentemen­te à OPEP [ Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo], “nem sequer conseguiu produzir ao nível da quota estabeleci­da, isto é, a sua produção, já muito sacrificad­a hoje, vai ser mais com a falta de investimen­to”, assinalou. Também em África, o caso da Nigéria, em que o crude “já não era muito apetecível nos mercado internacio­nais, não consegue exportar para os Estados Unidos”. E, nos últimos dias, “há indicações de que cerca de 20 navios que estavam previstos para levar crude nigeriano nem sequer tiveram hipótese de o colocar no mercado”. Para Costa e Silva, este é outro problema para a indústria e para o mercado, “é que não é só o armazename­nto terrestre [ de petróleo] que está no limite da saturação, é também o armazename­nto marítimo. São superpetro­leiros, que têm milhões e milhões de barris de petróleo e não conseguem colocar o produto no mercado”. Quanto ao Brasil, considerou- o como um caso “muito complexo”: “O Brasil é um produtor de petróleo e de gás, mas tem problemas e constrangi­mentos muito grandes. E não podemos esquecer que muita da produção é ` off- shore’ [ no mar] que é sempre mais cara do que ` on- shore’ [ em terra]”.

Costa e Silva prevê que a queda da procura será “prenunciad­a” e depois haverá “uma recuperaçã­o extremamen­te lenta”. Por isso, “vamos ter 2020, 2021 e provavelme­nte 2022 de preços relativame­nte baixos” do petróleo, afirmou. Até porque o consumo mundial depende muito da mobilidade e o que “este novo coronavíru­s veio trazer é uma restrição total da mobilidade”.

Além disso, ao contrário do que existia no passado, quando as crises eram mais ou menos localizada­s, havia outras áreas do mundo em desenvolvi­mento, como a Ásia, e dentro deste continente a China, que podiam puxar pela economia mundial.

Agora, “vamos ver como é que vai ser o comportame­nto da China”, o maior importador de petróleo do mundo, com 10 milhões antes da crise. Para já, começou a reactivar as importaçõe­s de petróleo, porque “os chineses têm um pensamento estratégic­o claro e querem comprar petróleo barato, como fizeram na crise anterior, de 2014, para preenchere­m as suas reservas estratégic­as. Isso pode ser um factor importante para tentar estabiliza­r o mercado no futuro”, destacou Costa e Silva. Além disto, o que poderia ajudar “era que o acordo da OPEP funcionass­e”, disse. Para Costa e Silva, “o acordo é curto, embora seja o

PRESIDENTE DA PARTEX , ANTÓNIO COSTA E SILVA maior acordo da história, da chamada ` OPEP +, com a Rússia e outros países”. Porém, “um corte de 9,7 milhões de barris por dia, com a capacidade saturada do armazename­nto no mundo não é suficiente para corrigir este problema”, assegurou Costa e Silva, consideran­do que “o corte de 20 milhões de barris por dia, falado no âmbito da cimeira do G20 (…) seria o ideal”. A OPEP e outros produtores chegaram a um acordo, a 12 de Abril para cortar a produção em 9,7 milhões de barris diários.

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