Folha 8

Academia Sueca concede a distinção ao músico “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção”

-

Ovencedor do prémio Nobel de Literatura de 2016 é Bob Dylan, “por ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição norte-americana da canção”. A secretária permanente da Academia Sueca, Sara Daniues, foi a encarregad­a de anunciar o nome do mito norte-americano do folk, de 75 anos. No último fim de semana, Dylan foi um dos protagonis­tas do festival Desert Trip, na Califórnia, junto com outras velhas glórias do rock, como Neil Young, Paul McCartney e os Rolling Stones. Na história desse prémio, a maioria foi dada a autores de lingua inglesa (27), seguidos por literatos de língua francesa (14), alemã (13) e espanhola (11). O único autor lusófono premiado foi José Saramago, em 1998. Só quem mergulhou alguma vez no revelador universo desse cantor, nascido num povoado de Minnesota, poderá reconhecer que Dylan é um poeta sem tirar nem pôr. O reconhecim­ento do Nobel à sua música, entendida como um organismo vivo no qual as letras são o corpo sobre o qual se apoia o resto, é portanto algo histórico. Mas a literatura baseada na música, ou vice-versa, era o caminho para esse tal Zimmerman, que adotou o pseudônimo de Bob Dylan em homenagem ao poeta Dylan Thomas, e depois de devorar qualquer livro que lhe caísse às mãos. O salto para Nova York, impulsiona­do pela chance de conhecer o incomparáv­el cantor-ativista Woody Guthrie, seria a introdução definitiva do músico no gênero literário. Lá mesmo, no coração urbano da Grande Maçã, construiu seu revolucion­ário estilo mergulhand­o nos sermões do blues e do folk e na corrente desinibida e undergroun­d da geração Beat, com Jack Kerouac, Neal Cassady e Allen Gingsberg. Boa parte da responsabi­lidade cabe também a uma namorada sua dos anos sessenta, Suze Rotolo, que lhe apresentou ao poeta francês Arthur Rimbaud, um facho de luz para a futura obra dylaniana.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola